sexta-feira, 19 de março de 2010

é passível esconder a própria cara
quando não é possível encontrar
a si mesmo

é possível negar a vida
quando não se sabe o que quer viver

é possível achar bom
é possível ruim
potencialmente
passível de ser bom e ruim

ao mesmo tempo
há que tenha medo da afeição

- eu não.

afeto é do campo do excesso

eu - da exceção

afeto é incontrolável
é súbito
é rápido
é espontâneo

eu
sou do campo do exceto
do inexato
do imprevisto
do contesto
do invisível


do poeta

domingo, 14 de março de 2010

Estico o braço na perspectiva do abraço
e trôpega - piso em falso a cada passo
simulo o silêncio
na densa paisagem
pra não me ouvir direito
pra não pagar o preço
salgado, lento e teso
do recomeço

sexta-feira, 5 de março de 2010

o peso lento morto do seu corpo
jaz sobre mim
ainda quente
que ebule
sob olhos dormentes
negros
imóveis
vitrais
indiferentes

quinta-feira, 4 de março de 2010

a palavra reverberava contra o tempo
ia e voltava
insistante
silenciosa
e se re-produzia
em ondas
invisíveis

só quem sabia - seria eu? eeeeuuuuuuuu, eeeeeeeeeeeeeuuuuuuuuuuuueuuuuuuuuuuuuueeeeeeeeeeeeuuuuuuuuuuuuuuuuuuueeeeeeeeeeeeeeeeuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuueeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuusem fim?

quarta-feira, 3 de março de 2010

como se possível fosse
amansar o vento em plena tempestade
como se possível fosse
estancar o vulcão em atividade
como se possível fosse
expandir os pulmões e sobreviver ao naufrágio
como se possível fosse
ressuscitar o dia
como se possível fosse
editar a morte

como se possível interferir na própria anatomia e tornar leve o que é denso por natureza - em leve, leve, leve - pra caber em algum espaço vazio, levitar na superfície, pra enxergar de fora, sobrevoar o raso, pra esconder o medo, pra escorar a verdade em receios - densos, densos, densos.