domingo, 13 de abril de 2008

monstros vestem-se de veludo
mas
não se conhece monstros pela pele
normalmente são belos
normalmente atropelam
sem serem vistos

ora singelos
rastejantes pássaros de asas potentes

olhos de serpentes
dragões lacrimejantes

mítica estampada no peito
devoram - lânguidos
suas presas

monstros
são silenciosos - mas gritam
são surdos
e têm medo - muito medo
de serem observados
mirados
com desprezo

alimentam seus alvos
com açúcar e leite
muito leite

todos os dias
pela manhã
mutilam um pouco suas vítimas
raspam os pelos
cerram as unhas
aprisionam
sorrateiros
pelos pés
bloqueiam seus céus
e - roubam suas almas
pra não avistarem da janela
o mundo de fora

monstros não merecem respeito
rasgo meu peito no asfalto gosto enfio com vontade o dedo na ferida ida volto - lida é pra não voltar é pra sangrar de vez é pra não perder a coragem enquanto vejo o sangue escorrer nos arquivos nas pastas das gavetas coletivas esculpidas a vários dedos arrasto o sonho na carne viva VIVA - o sonho virou ferida a morte virou mentira a finitude que não acaba - sobrevivo.
vivo em meu deserto árido áspero nenhum oásis me parece uma promessa de alívio queimo em brasa tenho sede meus pés estão dormentes - (dor mente, sabiam?) mas é preciso atravessá-lo.
Azul Janela Céu Mar Vermelho Sol de enganos Prefiro - azuis.
homens meninos - homens olho para os meus também não são meus são mundo são espanto são conforto colos e mãos meninos são tolos não reconhecem a própria mãe.
crianças dormem inocentes do outro lado - jaz frio não mais sente dorme definitivamente caiu de dor tombou para não mais acordar o corpo presência contumaz do que não é mais e foi para onde não sabemos é presença pra lembrar de sua própria ausência foi pra não mais voltar sem despedidas foi no espaço interrompido dos projetos que não são mais foi para janelas que não sabemos quais foi sem comunicação prévia sem cartas sem diálogos de adeus foi deixou pra trás rastros na história memória amores afetos trajetórias e enquanto somos prantos apenas estamos testemunhas oculares e vivenciais do que somos - enquanto ainda - apenas ainda, estamos.
destinos, moiras ensandecidas a espreita os deuses não podem falhar nas suas promessas identidades e assombros os deuses podem ver mas não podem negar a faca que cerra a espada que arranca a estrada que vaza caminhos afora de dentro pra fora os deuses não podem evitar quando a lâmina corta o fio enquanto hades - impiedoso - espera.
pássaros esbarram nas janelas vôos rasos e na mesma medida emergem rente às pedras peixes náufragos é de se pensar na natureza é de se pensar que nada é tão fixo assim.