segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

corpos molhados
se fundam
não se pode distinguir
na massa orgânica
líquida
a fonte da vida
bocas ávidas
que cerram em si
a própria extensão
o outro
é o eu
movimentos sincrônicos
são almas
que se desprendem
que vibram
juntas
inteiras
complexas
unidades do múltiplo
somos eu
somos nós
somos únicos

terça-feira, 12 de outubro de 2010

carrega no peito
o ardil
das verdades desfeitas
carrega em si mesmo
inverdades perfeitas
coerentes
irretocáveis
históricas
forjadas a esmo
passagens
caminhos
impermeáveis
desfechos
impenetráveis
como nós

gordios

o tempo pede respeito
há quem possua palavras-sistema
cada uma na sua pérfida função

enquanto seria palavra-linguagem-poesia
visualizo dissimulação

enquanto teria alma-gesto-imagem
vejo manipulação

não se deve usar palavras em vão - em vãos

segunda-feira, 24 de maio de 2010

o eterno me provoca.
corpo espera
passeio atrito e pernas
nos olhos esferas
brilho de outrora
mãos generosas
línguas entre-laçadas
sede e entrega
cúmplices
velhos amantes
sonhos novos
gravitam
não temos pressa
instante é eternidade
silêncio
palavra completa
e ecoa
respiro gravidade

o chão não é lugar pra mim

domingo, 16 de maio de 2010

Sou afeita a subterfúgios fáceis

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Somos
Feito brincadeira
Nado no escuro
Pluma ao vento
Jogo de cintura
Cartada de Ás – Blefe

Somos
Sonho encoberto
Leituras divinas
Palavras ambíguas
Recusas escusas
Lucidez e loucura
Imãs que se negam - Arredios

Somos
Tempo lapidado em água fria
Encontro e espera
Relógio ao avesso
O universo conspira
Energia pura
Coito da noite sobre o dia - Atmosfera

Somos
Riso e deboche
Olhar e respiro
Instante eterno
Quente no frio
Náusea e tontura
Gangorra e escuta – Calafrio


Somos o que ainda nos resta
- Ser contraditório
E o ainda não dito
O ainda não visto
O ainda de maneira alguma e talvez nem mesmo um dia.

sábado, 17 de abril de 2010

Lágrimas submersas não molham.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

vai
nossa vida não é feita para nós
ruptura - fissura mundana
fomos descolando nossas carnes
como quem rouba balas no supermercado
nos apropriando de outros sabores
sós
um par de pés - dois pares
fragmentados
em caminhos de abandono
não temos mais donos
não somos mais sonhos
giramos os olhos
circunscritos numa esfera vazia
tudo que veríamos
seria por nós
mas ao desatá-los
a linha teme ser reta
circular então
é poesia e métrica
o eterno retorno do velho sábio
se perdura
o mesmo dia do mesmo mês em todos os anos
revivo momentos de espera
revivo a dor do instante
revivo o ácido na boca
a espinha gelada
a respiração
a tontura das pernas
os ruídos incessantes
olhares do corredor
jalecos e janelas - torpor
o corte agudo na carne
a vida
rompida
em mim
ao nascer para o mundo
revivo o doce salgado das lágrimas
do rosto que se revela
e o reconhecimento da mão tesa sobre as suas
frágeis mãos que agora me buscam
no frio
do fora
sinto o cheiro
dos pelos ralos em sua cabeça
da minha própria pele
do sangue que seca
no corpo que te embala
sinto-me bicho
com a precisão exata
de ser mãe
como agora - 12 anos depois com a chegada do menino Renzo

sexta-feira, 19 de março de 2010

é passível esconder a própria cara
quando não é possível encontrar
a si mesmo

é possível negar a vida
quando não se sabe o que quer viver

é possível achar bom
é possível ruim
potencialmente
passível de ser bom e ruim

ao mesmo tempo
há que tenha medo da afeição

- eu não.

afeto é do campo do excesso

eu - da exceção

afeto é incontrolável
é súbito
é rápido
é espontâneo

eu
sou do campo do exceto
do inexato
do imprevisto
do contesto
do invisível


do poeta

domingo, 14 de março de 2010

Estico o braço na perspectiva do abraço
e trôpega - piso em falso a cada passo
simulo o silêncio
na densa paisagem
pra não me ouvir direito
pra não pagar o preço
salgado, lento e teso
do recomeço

sexta-feira, 5 de março de 2010

o peso lento morto do seu corpo
jaz sobre mim
ainda quente
que ebule
sob olhos dormentes
negros
imóveis
vitrais
indiferentes

quinta-feira, 4 de março de 2010

a palavra reverberava contra o tempo
ia e voltava
insistante
silenciosa
e se re-produzia
em ondas
invisíveis

só quem sabia - seria eu? eeeeuuuuuuuu, eeeeeeeeeeeeeuuuuuuuuuuuueuuuuuuuuuuuuueeeeeeeeeeeeuuuuuuuuuuuuuuuuuuueeeeeeeeeeeeeeeeuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuueeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuusem fim?

quarta-feira, 3 de março de 2010

como se possível fosse
amansar o vento em plena tempestade
como se possível fosse
estancar o vulcão em atividade
como se possível fosse
expandir os pulmões e sobreviver ao naufrágio
como se possível fosse
ressuscitar o dia
como se possível fosse
editar a morte

como se possível interferir na própria anatomia e tornar leve o que é denso por natureza - em leve, leve, leve - pra caber em algum espaço vazio, levitar na superfície, pra enxergar de fora, sobrevoar o raso, pra esconder o medo, pra escorar a verdade em receios - densos, densos, densos.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Eu vi a flor que nascia
Branca
Rubra
Bela
Brotava em meios
Círculos vazios
Dentro dela
Vi a flor que jazia
Em meios verdes e negros
E frios
Vi a flor
Enquanto nascia e jazia
Vi no jardim
Que flores nascem e morrem
Todo dia
Quero ver a cara da humanidade
O que só vejo em partes
Eu veria o todo
E o que pode se chamar de tudo
Pra não me perder
Na pequena esfera que se chama Mundo

Eu queria entender a frequência
Do que se chama essência
Se é que ela – haveria

Não bastam
Caras de bobos
Não bastam espertos em tudo
Se for possível avistar um rosto
Que se chama céu
Que se chama vida
A quem devemos chamar
Quando estivermos réus diante do inominável

domingo, 21 de fevereiro de 2010

...A noite é fria e extensa. Brilham o chão e o céu em mil estrelas vivas que queimam meu peito insone. Quero sobreviver à alegria monótona do dia-a-dia, quero macarrão aos domingos, comer pão na padaria...quero um gole de cerveja quente, quero o óbvio...mil estrelas me perdoem por preferir bebida gelada – quente.
O homem
Esse ser complexo,
Esse ser inapto
Esse claro e escuro
Esse mundo de símbolos
Esse nódulo do mundo
Esse monte de eus
Essa ferida em pus
A cicatriz de tudo
A delícia
O odor
O sonho
E a tortura
A escolha
A palavra
Morada do tempo
E o encontro sisudo
Com o fim em si mesmo

"...Doem as costas, o dorso que entorto pra acomodar minhas medidas.


Não posso acordar com tantas feridas. Tenho-as. Guardo convencido de que sem elas nada faria. Nem acordar o dia, nem pernoitar nas trevas.


Como grilhões que gritam a cada passo, como o hino de um réu confesso que caminha trôpego, enquanto se amarra aos próprios elos, forjados a ferro..."

sou âncora num mar bravio plástico volúvel arredio

estive em terrenos minados e explodi pólvoras internas

tenho as certezas que pedi e agora não preciso mais delas - eclodi

escaras e espera
Apaguei o dia
ao virar a esquina

anoiteci enquanto era dia
e não vi
ébano e marfim
toco teclas sinuosas alternadas

sinfonia improviso
mítica melodia
restaram duas xícaras - sujas - na pia

numa o amargor do dia
noutra as palavras inauditas

ambas sujas
por temor ou melancolia
repousam ao tempo